Obviamente, todos temos direito à opinião, acrescendo que o nosso respeito por essa mesma opinião é maior quando é emitida por pessoas conhecedoras e inteligentes. Mesmo que não concordasse, como “manda” uma das maiores organizações não-governamentais do mundo, deveria esforçar-me para que essa opinião fosse disseminada livremente.
O que se passa no caso dos meros, curiosamente, é que há pessoas igualmente informadas, inteligentes e empenhadas que defendem posições antagónicas. Ou seja, há pessoas que consideram que estes animais podem ser caçados, que isso não afetará as suas populações e será uma mais-valia para a economia. Por outro lado, há um outro conjunto de pessoas que considera que caçar meros é um ato lesa-turismo subaquático e que terá influência nas populações existentes. Curiosamente, ambos os lados têm trabalhos científicos a sustentar as suas opiniões.
E que penso eu sobre o assunto? Eu assisti às chacinas de meros nas Flores dos finais dos anos 70. Animais majestosos eram arrastados por cima do Porto das Poças, alguns ainda vivos, e esquartejados para gaudio dos caçadores submarinos franceses que usavam as ilhas como um local de treino para os campeonatos europeus. Eu vi e não gostei. Alguns daqueles animais eram muito mais velhos do que eu e, alguns deles, eram mais velhos do que eu sou hoje. Não são animais para serem mortos apenas para treino para uma competição distante. Era um enorme desrespeito e ainda bem que terminou. Sou apologista que se usem os recursos naturais de forma letal para o que é necessário, não para atividades recreativas.
Hoje, depois de os conhecer debaixo de água, penso ainda que os meros são criaturas fantásticas, pachorrentas, grandes, que não hesitam em chegar-se aos mergulhadores e roçar-se neles. Os meros dão excelentes fotografias subaquáticas. Ora, tendo obtido tanto prazer com os meros vivos, porque iria eu contribuir para os matar. Ou seja, “és tão engraçado, deixa-me cá dar-te um tiro e matar-te”… Não faria sentido. Por essa razão, para além de não os caçar, também não como mero. A mesma opção têm uns quantos fanáticos do mundo azul. Dado ser uma opção pessoal, não tem de influenciar, nem influencia, a minha postura enquanto decisor.
Portanto, neste caso em concreto, o que pensa o decisor? O decisor pensa desta forma: um mero vivo, com que se possa mergulhar, vale o mesmo todos os dias de mergulho do que se for morto e vendido em lota uma única vez. Ou seja, se os meros estiverem vivos valem muitíssimo mais do que se estiverem mortos. O decisor pensa também que o mergulho com escafandro autónomo é uma atividade com interesse crescente no arquipélago pelo que não faria qualquer sentido estimular a morte do mais importante símbolo da escafandria, o mero.
Ao mesmo tempo, o decisor pensa também que a pesca profissional à linha, ao contrário da caça, não é seletiva, pelo que não faz sentido impor uma restrição que não se pode cumprir. Portanto, tem de se conviver com a possibilidade dos meros serem capturados por esta via. Também por não ser uma arte seletiva, a pesca profissional à linha, com os métodos legalmente utilizados nos Açores, nunca poderá colocar estas populações em risco, o que não aconteceria com a caça. Com a caça, seria possível capturar todos os animais de grande porte, o que, dada a sua sexualidade (todos nascem fêmeas e depois transformam-se em machos), poderia colocar em risco as populações.
Finalmente, depois de dezenas de anos de restrição à caça ao mero nos Açores, já quase ninguém pensa que seria adequado regredir nesta proibição. Ao contrário, os caçadores dos tempos modernos (tirando o Rei de Espanha…) estão mais interessados em obter boas imagens de animais vivos e livres do que fomentar cadáveres apenas pelo prazer de matar.
Muito mais do que a opinião deste decisor, condicionam as opções do Governo as decisões da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Ao contrário do que é por vezes afirmado, a decisão de proteger os meros no nosso arquipélago em 1984 foi tomada no órgão mais importante da autonomia insular. Não resulta, portanto, da sensibilidade de “um amigo que fazia parte do governo regional”, como irresponsavelmente se afirma por vezes. Em 2007, através do diploma da pesca lúdica dos Açores, os meros voltaram a ser protegidos pelo Parlamento Regional em relação à caça-submarina. Seria difícil ter uma decisão mais clara.
Com todo o respeito por quem pensa de forma diversa, esta é também a opção de um dos decisores do nosso arquipélago. Haja argumentos válidos e em sentido contrário e o decisor, obviamente, saber-se-á adaptar. O Frederico, esse adora os meros que vai encontrando e fotografando debaixo de água, pelo que nunca mudará de ideias.